A hierarquia dentro da Prefeitura Municipal de Teresina é complexa. Quatro figuras se sabotam, se aliam e disputam a posição de voz influente ao pé do ouvido do prefeito Doutor Pessoa que, em tese, é quem toma as “decisões” finais em todos os setores da administração.

Entre o vice-prefeito Robert Rios; a primeira-dama, Samara Conceição; a secretária imediata do gabinete, Andréia Nádia Lima; e o supersecretário, João “Pessoinha” Duarte, tudo se faz ao sabor da conveniência do momento.

E é o teresinense quem paga a conta.

SAMARA: DE BESTA NÃO TEM NADA!

Ela não tem cargo na Prefeitura, mas quem duvida da influência de quem é casada com o prefeito, se engana bastante. De besta, a primeira-dama não tem nem o caminhado. Enfermeira de formação, cursa medicina na Fauldade CET (mensalidade de R$ 10 mil reais) desde 2021, ano em que Doutor Pessoa se tornou prefeito. Mesmo num curso de tempo integral, chegou a ser anunciada como secretária municipal de Economia Solidária. Mas na última hora, não foi nomeada.

A ascendência dela sobre Doutor Pessoa – e consequentemente, sobre a gestão – se comprova pelas diversas vezes em que é ela a representante da gestão em eventos públicos. E faz questão de se mostrar assim em suas redes sociais. Passou a ter sua imagem associada a diversos eventos comunitários da gestão, como feiras, ações sociais em bairros e promoção de festas. É natural entender que Samara estava crescendo na política associada à imagem de Doutor Pessoa.

Nos bastidores, o impedimento para que ela assumisse uma pasta no primeiro escalão da PMT ou fosse candidata a deputada federal pelo partido do prefeito, foi sabotagem que passou pelo entendimento de Robert Rios, João Pessoinha e Andreia Nádia.

Por não ter mandato nem laços de sangue, Samara sabe que não pode esticar a corda com quem tem, mas não parece ter desistido de aproveitar a oportunidade. A candidatura dela a vereadora em 2024 é dada como certa e, lá na frente, num final de mandato do prefeito, nem Robert, Pessoinha ou Andréia vão impedir.

ROBERT: POLÍCIA E LADRÃO

Invocar seu histórico de policial federal para alegar que outros são bandidos é ato corriqueiro de Robert. É, também, boa parte do desgaste que hoje enfrenta a gestão de Doutor Pessoa, bastando lembrar que ele foi responsável direto pela paralização do transporte público urbano da capital.

Mas Robert é vice, e vice não pode ser demitido. Apesar de ter sido exonerado do cargo de secretário de Finanças de Teresina, continua mandando forte por lá. O jogo de “polícia e ladrão” é um trunfo forte dentro de uma gestão até hoje sem rumo. Robert manobrou Doutor Pessoa para isolar o prefeito. Tirou de perto dele Aldofo Nunes, que acompanha Pessoa desde 2016. Afastou João Henrique Sousa da articulação política da gestão. Como ninguém pode tudo, viu frustrada a tentativa de tomar para si a articulação política com a Câmara Municipal perdendo uma queda de braço com o atual presidente da Casa, vereador Jeová Alencar.

Vendo ser improvável também afastar Pessoinha do pai, apesar do esforço inicial durante todo o ano de 2021, decidiu se aliar a ele para que não houvesse mais pessoas se fortalecendo dentro do “círculo menor” do prefeito, é o que garantem fontes na PMT. Impedir que a primeira-dama tivesse uma caneta ou um mandato parece ter sido, assim, coisa de Robert e Pessoinha.

ANDRÉIA: MAIS QUE O SOBRENOME

Poucas pessoas dentro da gestão de Doutor Pessoa tem o currículo de Andreia Nádia Lima. Professora, advogada e especialista em licitações. Foi pregoeira na Secretaria de Saúde do Piauí, presidente da comissão de licitações da secretaria de Administração e Previdência do Piauí, assessora especial e presidente da comissão de licitação da Prefeitura de Nazária.

Ela entende do riscado. Embora, ultimamente, a PMT esteja fazendo quase nenhuma licitação e uma quantidade enorme de dispensa delas ou adesões a contratos feitos por outras instituições. Estranho, né?

Aliás, o nome completo é Andréia Nádia Lima de Sousa Pessoa. Não por acaso: é casada com Cláudio Pessoa, o superintendente da STRANS, sobrinho de Doutor Pessoa. Juntos, ela e o prefeito, portanto, não compartilham apenas horas e horas de despacho, mas também o sobrenome.

Ocupando o cargo de secretária imediata do Gabinete do Prefeito, hoje é ela quem passa mais tempo com o prefeito na PMT e quando ela se senta numa mesa, todos ali estão diante dos interesses do prefeito em pessoa. Ainda mais quando ela fala do que ela entende e o prefeito, infelizmente, não tem a menor noção: contratos.

Ter influência sobre os fornecedores de uma Prefeitura do tamanho de Teresina é, na prática, ter influência sobre a própria Prefeitura.

PESSOINHA: EM NOME DO PAI, O FILHO.

Numa prefeitura cheia de parentes, o parente mais próximo, claro, tem sempre a preferência. Ser filho, além de qualquer outra qualidade profissional, não deixa de ser uma vantagem do advogado João Duarte sobre todos os demais nomes no entorno de Doutor Pessoa.

Em vários aspectos, o prefeito não é alguém que inspira confiança. A lacuna de diálogo, assim, é preenchida em boa parte, hoje, por João Pessoinha. Investido oficialmente de superpoderes na gestão, ora, por que não estaria, também, investido extraoficialmente de portar a “palavra do rei”?

Volta e meia, o prefeito usa espaços na mídia para “dar um carão” em seu filho. Não parece mais do que mero teatro para satisfação pública diante do que se vê na prática.

Pessoa ganhou uma eleição alegando que faria uma gestão de técnicos. Num primeiro momento colocou seu filho na combalida Empresa Teresinense de Desenvolvimento Urbano, que administrava apenas passivos trabalhistas e outros processos burocráticos da Prefeitura. Então lhe foi dada a gestão do asfaltamento, da iluminação pública, da regularização fundiária e até o controle da bilhetagem eletrônica do transporte público.

Com todos os “puxões de orelha”, não foi a um técnico, mas a seu filho, que Doutor Pessoa entregou os poderes de controlar as condições do caminho que as pessoas utilizam para ir e vir de casa, a iluminação deste caminho, o transporte que elas utilizam para isso, a segurança de ter a titularidade jurídica oficial de suas casas... Pessoinha é o próprio prefeito para milhares de teresinenses.

É compreensível, então, além de tudo, Pessoinha seja enxergado como porta-voz de seu pai em assuntos que não aparecem em manchetes de jornais ou comentários de TV.

BÚSSOLA

Samara, Robert, Andréia e Pessoinha são hoje os 4 pontos cardeais na desorientada bússola administrativa de Doutor Pessoa. Aliás, também são dirigntes e filiados ao Republicanos, partido do prefeito.

Isoladamente, nenhum é determinante, mas quando se juntam 2 ou 3 deles, terminam mandando mais que o prefeito e decidindo para onde vai a gestão.

E decidindo, também, quem segue se beneficiando dela.