Quem assistiu a convenção que homologou o governador Wellington Dias (PT) como candidato a reeleição na sexta-feira (3), observou que, mesmo sendo um evento lotado de petistas e simpatizantes do partido, a palavra "golpe" não foi ouvida. Pode até ter rolado em conversas de pé de ouvido, mas em alto volume ninguém escutou. Enquanto em Minas Gerais a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi homologada candidata a senadora dizendo que vai enfrentar os que apoiaram o golpe, no Piauí, o termo deverá ser abafado.
Isso deve acontecer porque a pronúncia dessa palavra gera enormes constrangimentos no palanque do governador. Se alguém falar em golpe ou em golpista, vai constranger o senador e candidato à reeleição Ciro Nogueira (Progressistas), apoiado pelo PT de Wellington no Piauí. Num palanque com a presença dele, não será nada legal fazer menção ao impeachment de Dilma, considerado por muitos como um golpe. Ciro foi decisivo para que ele acontecesse.
Assis Carvalho (PT), que em cada esquina condena o “golpe” e os “golpistas”, não vai poder falar sobre o assunto nos palanques, sob pena de deixar o aliado sem jeito. Marcelo Castro (MDB), que se tornou queridinho dos petistas por ter contrariado seu partido e votado contra o impeachment, nem vai poder usar isso a seu favor nos palanques. Se fizer discurso dizendo que foi contra o golpe, estará, indiretamente, jogando uma pá de barro na campanha de Ciro.
Com essa formação de chapa, os petistas do Piauí e Marcelo Castro perderam um dos mais importantes nichos de discurso para a campanha: jogar os simpatizantes do PT no estado contra os algozes do partido. Apontar o dedo para os golpistas não poderá ser arma de campanha. Wellington Dias disse, em seu discurso na convenção, que a a chapa dele só tem pessoas leais e que não quer ninguém de cara feia com aliados na campanha.
Ou seja, se a ordem for obedecida, os candidatos petistas terão que engolir o discurso do golpe quando Ciro estiver no palanque. Para Marcelo Castro, repito, deve ser uma situação bem chata. Ele votou contra o impeachment, se indispôs com o próprio partido por conta disso e ganhou admiração dos petistas. Mas a presença de Ciro como seu companheiro de chapa impede que ele use isso como trampolim de campanha nos palanques.
Até mesmo chamar o governo Temer de ilegítimo não será muito legal, pois Ciro é um dos principais aliados dele no Congresso e conquistou grandes espaços na gestão do emedebista. Ah, e criticar Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à presidência adversário do PT, também não vai cair bem, pois Ciro apoia o tucano na corrida presidencial. A verdade é que, para evitar constrangimentos, muitos gritos terão que ser abafados na campanha de Wellington.
Se lá em Minas Gerais a ex-presidente Dilma é candidata demonstrando disposição para apontar o dedo no rumo daqueles que a golpearam, no Piauí a recomendação do líder maior do PT é esquecer essa história. Falar em golpe pra quê, se o importante é se reeleger?
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