No dia 13 de janeiro de 2023, quando Rejane Dias tornou-se conselheira do Tribunal de Contas do Estado do Piauí, talvez tenha passado pela cabeça do ministro Wellington Dias (PT) que seus problemas políticos com a esposa estariam chegando ao final. Ele voltaria a ser, sozinho, aquele que dá as cartas do jogo em casa. Quase um ano e meio depois, se foi isso que ele pensou naquela época, hoje, sabe que se enganou. E muito.
Contam pelo menos duas fontes ligadas ao ministro que Rejane ainda não teria entendido a delicada situação que vive e os riscos que ela representa ao caminho nacional que Wellington está trilhando.
Sem noção
Ainda em 2023, um mês depois de ir para o TCE-PI – e ser obrigada a entregar a sua estrutura de campanha para o ex-deputado Zé Santana, uma história para outro momento –, o irmão de Rejane, Rogério Ribeiro, se filiou ao PT. A meta era ser eleito vereador de Teresina. A filiação não agradou o ministro, mas adivinhem só de quem havia sido a ideia!
Para Wellington, que houvesse parentes diretos de Rejane envolvidos em campanhas eleitorais agora em 2024, seria correr o risco de que as pessoas voltassem a falar da Operação Topique, onde ela mesma é investigada por suposto envolvimento o esquema que, segundo a Polícia Federal, desviou aproximadamente R$ 200 milhões de reais de dinheiro federal do transporte escolar. E nisso, errado ele não estava errado.
O ministro trabalhou pacientemente por mais de um ano até convencer Rejane e Rogério de que a investida política lhes traria mais desvantagens do que vantagens. E para quem tem vontade de suceder o presidente Lula já em 2026, mas vive sob o risco de perder seu ministério, seria uma crise desnecessária. “Pra tudo dar certo, o assunto tem que esfriar”, explica uma das fontes.
Ok, nada de campanha na capital.
Vaidade: o pecado que o diabo mais gosta
Mas parece que dá uma coceira sem fim ter poder e gostar dessa danada da política... E eis que ressurge a ideia de entregar uma prefeitura do interior à família de Rejane, que tem base em São João do Piauí e região. Mais uma vez, Pauliana Ribeiro Amorim, sua prima.
Em 2020, ela fez confusão em São João, tentou ser candidata a prefeita e, no frigir dos ovos, concorreu na condição de vice-prefeita do Dr. Alexandre Costa. Wellington, que não tem a visão limitada de quem a indicou, não queria a prima de Rejane Dias na disputa, ainda mais contra um aliado seu. Era sem cabimento: Pauliana Amorim é, tal qual, Rejane, investigada na Operação Topique.
Wellington Dias não chegou aonde está sem se importar com a própria imagem. Ele sabia que, em algum momento, o problema iria crescer; que Rejane e seus parentes iriam prestar depoimento à PF. Ela, quase gaguejando, de maneira virtual, orientada por seu advogado a permanecer em silêncio. Rogério e Pauliana, presencialmente, na sede da polícia, negando constrangedoramente participação ou envolvimento.
E foi desse jeito. Ele negando uso de veículos das empresas que faziam parte do esquema; ela, tentando esconder o recebimento de uma casa reformada avaliada em R$ 1.000.000,00, sob o pretexto de que apenas alugava a casa, que tinha recibos dos pagamentos, mas nenhum comprovante eletrônico.
Tudo pago em espécie.
O golpe está aí, cai quem quer
O assunto e os processos estavam esfriando, perfazendo, quem sabe, o mesmo caminho daquele de homicídio culposo do qual o próprio Wellington Dias escapou por prescrição. É bom sempre lembrar que ele não foi inocentado pela Justiça. Não. A Justiça é que foi lenta o suficiente para não o julgar, deixando-o na condição de inocente.
E vem 2024. Como se Wellington não tivesse outras coisas com as quais se preocupar, vem Pauliana, não mais vice em São João, mas pré-candidata a prefeita pelo PT em Socorro do Piauí, terra de seu pai, ali pertinho 60km.
Bateu na mesa
Já deu outra confusão entre Wellington e Rejane. Se ela faz gosto, ele, por óbvio, não quer. Mas na última discussão, dizem as fontes, a irritação de Wellington assustou. O tom manso e conciliador cedeu ao impulso de um tapa na mesa. Teria sido depois dele ouvir que a família de Rejane teria direito a uma prefeitura naquela região, que também é a região da família dele.
A 33km de Socorro do Piauí -- onde Rejane quer Pauliana prefeita --, o ex-motorista do pai de Wellington Dias -- também filiado ao PT -- lidera as pesquisas no município de Paes Landim. Tratado como se fosse primo de sangue e da família do ministro, Fracinaldo Moraes segue para uma campanha onde estrutura federal e estadual se misturam contra adversários.
Direitos iguais
O “Naná”, primo do ministro, empinou como um empresário de sucesso nos últimos anos e, dizem as fontes, é feito “cocó e trança” com Felipe de Santana Machado, outro empresário cuja fama precede a vitória em dezenas de licitações milionárias.
Por qual motivo Wellington pode ter um primo prefeito e Rejane não poderia ter uma prima na mesma condição?
Todo mundo sabe, mas a conselheira, ao que parece, não entende. Ô coisa difícil!
Não importa quão chique é o sapato do ministro, a pedra não sai lá de dentro.
E o calo já está doendo, com certeza.
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