Os resultados isolados nas cidades falam apenas de uma fração da política do Piauí. Quando se enxerga o todo, a soma desses resultados do último dia 6 de outubro de 2024 expõe mais do que prefeitos e vereadores renovando ou conquistando mandatos: mostra o caminhos dos grandes líderes da política para o próximo ciclo.
O senador Ciro Nogueira (PP), o deputado estadual Georgiano Neto, a deputada estadual Gracinha Mão Santa (PP) e o prefeito eleito Sílvio Mendes (UB) e seu vice Jeová Alencar (Republicanos), de Teresina, saem destas eleições como os grandes vitoriosos e mostraram ao Piauí que existe mais de um caminho na política.
Gracinha e o sentimento popular
De todos os municípios do Piauí, aquele onde se sabia com mais antecedência que Governo do Estado teria mais problemas para emplacar uma vitória era Parnaíba. Pelo carisma do atual prefeito Mão Santa, pela tradição do eleitorado da cidade, pela falta de adversários competitivos.
Apesar disso tudo, o governador e seus aliados tinham tempo e estrutura para montar uma estratégia vitoriosa. Mas nunca imaginaram que do outro lado, para muito além da figura de Mão Santa, teriam que enfrentar a perspicácia da filha dele, Gracinha. Método nenhum, nem gráficos, nem nada foi capaz de superar a imprevisibilidade popular de Gracinha.
O candidato escolhido de última hora, as constantes mudanças de rota da comunicação, e o movimento das ruas foram conduzidos por ela, herdeira de um carisma bastante específico e uma coragem que não é qualquer um que tem, fizeram a diferença. E tornam Gracinha Mão Santa uma liderança destacada para voos maiores que uma prefeitura ou mesmo a Assembleia Legislativa.
Georgiano, o gestor do maior e mais eficiente partido do Piauí
As eleições de 2024 apontaram que não há no Piauí um partido mais focado em seus resultados que o PSD de Georgiano Neto. Sim, de Georgiano. Na estratégia, o deputado estadual já superou seu pai. A formalidade de pertencer aos quadros do MDB hoje não diminuiu nem atrapalhou a eficiência de sua gestão política junto ao PSD.
Se há alguém que se cacifou como força política estadual nestas eleições, este alguém chama-se Georgiano Neto.
O PSD fez 65 prefeitos, sendo o campeão de vitórias majoritárias. O PT do governador Rafael Fonteles ficou em 3º colocado no ranking, fez 50 prefeitos. Esta comparação já serve para se estabelecer a referência.
A política estadual passa pelo PSD, um partido onde seus filiados sentem a segurança do apoio de Georgiano na vitória ou na derrota. Sim, o PSD também tem o maior número de grandes opositores municipais. Mais do que conveniência, o partido é movido, hoje, por compromissos. E seus filiados que Georgiano compra a briga deles. Por isso fazem o mesmo por ele.
Sílvio Mendes, a história conta o futuro
Nenhuma propaganda eleitoral é mais eficiente do que a história de um político. Confiar nisso não é fácil, mas 2024 mostrou que isso faz a diferença.
Prefeito eleito de Teresina, Sílvio Mendes modernizou seu diálogo, adaptou seus discurso à modernidade da comunicação, mas não se desviou de quem ele sempre foi: um gestor seguro. A turbulência dos últimos 4 anos da capital fez o teresinense escolher com segurança. E aí a história de Sílvio resistiu ao volumoso marketing – ainda que malfeito – do adversário. A história dele fez o tresinense enxergar uma cidade melhor sem precisar de imagens geradas por inteligências artificias.
Já pensou numa eleição que pesquisas e dinheiro substituem as pessoas? Senadores, deputados, vereadores, esse povo todo serve para quê?
A vitória de Sílvio presta um grande serviço à política: recoloca eleitor e políticos como protagonistas das campanhas. Claro que estrutura é importante, mas não é, segundo Teresina, diretamente proporcional ao resultado. Dinheiro ajuda, mas não gera confiança nem fidelidade. O eleitor precisa ser convencido pessoalmente para entregar o voto que o dinheiro não compra.
O fator humano resiste na política.
Os vereadores ligados ao Karnak tiveram mais de 285 mil votos. O candidato do Karnak a prefeito obteve 198 mil votos. Não foi traição, foi recado.
Jeová, onde ele vai, Teresina vota!
O deputado estadual Jeová Alencar apostou todas as fichas nestas eleições de 2024. Foi um “all in” sem blefe.
Em 2016, foi o vereador mais bem votado da capital ao lado de Firmino Filho (PSDB) e o prefeito foi reeleito. Em 2020, com Dr. Pessoa (à época, no MDB), superou os números da eleição anterior e ajudou a vitória da oposição.
Chega em 2024 isolado na Assembleia Legislativa, com um alvo nas costas e fora da gestão municipal, sem padrinhos ou grandes aliados, virou o motor de mais uma campanha majoritária vitoriosa em Teresina ao lado de Sílvio Mendes.
Não há político que movimente hoje Teresina tal qual faz Jeová. O vice de Sílvio Mendes foi para a luta nas favelas e vilas, nas pequenas comunidades de todos os cantos da capital. Os números não deixam mentir, mas, mesmo assim, não falam tudo.
Há de se reconhecer: nenhum outro político saberia fazer brotar gente numa campanha popular contra um exército de 400 candidatos, palácios e superestruturas como fez Jeová.
Quer saber pra onde Teresina vai? Não é preciso usar GPS nem qualquer aparato tecnológico. É só ficar de olho em Jeová, um homem sem medo.
Ciro Nogueira, o cara do grupo
Quando Kleber Montezuma perdeu as eleições de 2020, nas imagens da entrevista sobre a derrota, Ciro Nogueira estava ao lado dele e de Firmino Filho. Não precisava, mas estava. Em 2022, na derrota de Sílvio ao Governo do Estado, estava a extensão de sua imagem, o deputado Júlio Arcoverde, presidente de seu partido. Ministro de Bolsonaro, ele estava administrando – e colocando a cara – na imagem da derrota na disputa nacional.
Na imagem da vitória, todo mundo quer aparecer. Mas a derrota é, sem dúvida alguma, uma das possibilidades da política. E Ciro Nogueira mostrou que segura a mão de seus aliados até no resultado mais adverso. Essa postura constrói adiante, sempre, novas vitórias. Verdadeiras.
A entrevista que Fábio Novo deu ao reconhecer a derrota, mas do que palavras, fala por sua imagem.
Antônio Carlos Magalhães dizia que nenhum político de força nacional tem força de verdade se não cuida de sua base política estadual. Certamente o próprio Ciro deve ter ouvido isso do velho ACM.
A eleição de Teresina, Parnaíba, Floriano, Campo Maior e várias outras mostram que mesmo nacional, mesmo em oposição, mesmo tendo passado por derrotas, ele continua firme.
O Progressistas de Ciro fez 34 prefeitos, mesmo o senador sendo oposição estadual e federal. Sem ministério, sem governo federal, sem governo estadual, apenas o compromisso e o trabalho de senador. Na conta dos 34 prefeitos, não está Teresina, aliás. Mas a aliança que construiu a vitória de Sílvio Mendes e muitos outros prefeitos de outras siglas passou por sua articulação.
Para mais do que prefeitos eleitos, Ciro sai fortificado por outra coisa: liderança.
E que isso não se constrói numa única eleição, mas ao longo de várias delas.
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