Há um ditado popular que diz “Quem tem limite é município!”. Tal frase é dita quando alguém quer reforçar a ideia de que não há limites para a falta de noção. Quando algo está fora da ordem lógica, um outro ditado é usado: “O capim comeu a vaca!”. Em Socorro do Piauí, os dois ditados se encontram em 2024 e servem para definir a pré-candidatura de prefeita da empresária Pauliana Ribeiro Amorim, prima da ex-deputada federal petista e atual conselheira do Tribunal de Contas do Piauí, Rejane Dias.
A definição “empresária” consta na “bio” de Pauliana no Instagram. Curioso, que não se tem notícia de um empreendimento de Pauliana que tenha, de fato, dado certo. O perfil inteiro da petista parece coisa fake, como se montado para divulgar uma pessoa que, na verdade, não existe.
Em uma de suas últimas postagens, ela convida seus seguidores a conhecer “O jeito Pauliana de administrar”. Não se aproveita nada no texto declamado por ela para que se possa comentar. Mas há fatos que falam por si. Talvez seja de família.
O jeito Pauliana de administrar
“Eu praticamente não fiz quase nada”, diz Pauliana sobre o tempo em que ocupou o segundo maior cargo da Secretaria de Educação do Estado do Piauí. Ela foi superintendente de gestão da SEDUC em 2015, ano em que sua prima Rejane Dias se tornaria a secretária da pasta.
A informação poderia ser confirmada facilmente no Diário Oficial do Estado do Piauí. Mas há fontes mais detalhadas. O Inquérito Policial 465 de 2018, da Polícia Federal, por exemplo.
No dia 24 de junho de 2019, Pauliana foi ouvida na condição de declarante. Foi informada que aquele seria a primeira vez e, provavelmente, a melhor oportunidade de esclarecer os fatos investigados pela Federal no âmbito da Operação Topique.
“Eu nunca tive um papel de gestora. Era mais um papel de administrar as escolas”, revela Pauliana durante seu depoimento. Durante o tempo em que esteve de frente ao delegado respondendo perguntas da PF, ela que hoje é pré-candidata a prefeita de Socorro do Piauí falou bastante e convenceu muito pouco – ou quase nada – sobre sua suposta inocência no esquema de desvios de recursos públicos da Educação.
Mentiu para pegar em dinheiro
Ela confessa, inclusive, ter mentido à Receita Federal. Admitiu que, orientada por seu contador e um gerente do Banco do Nordeste, informou, também ao banco, ter um um falso capital social de R$ 2.000.000,00. O objetivo era conseguir um empréstimo para montar uma pousada em São João do Piauí. Mas não ficou claro se por cuidado da instituição financeira ou incompetência dela, nunca pegou num real. “Não consegui movimentar nada”, admitiu.
O assunto veio à tona enquanto ela se queixava que falavam mal dela “na época de uma confusão aí”. A tal confusão era justamente o motivo de seu depoimento: o maior desvio de recursos públicos da educação na história do Piauí, pelos cálculos do Ministério Público Federal, coisa aproximada de R$ 200.000.000,00 (duzentos milhões de reais), justamente o que estava sendo investigado pela PF.
Pauliana tanto não convenceu a Polícia Federal quanto não convenceu também o Ministério Público Federal. Hoje é ré, acusada por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, que a PF e o MPF acreditam ter confirmado por meio de suas investigações em quebras dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e de dados digitais.
Em seu inquérito, a Polícia Federal é enfática ao estranhar a predileção de Pauliana pela movimentação financeira em dinheiro vivo, espécie.
Todos os crimes apontados nos processos de Pauliana são graves. E um alerta para a população de Socorro do Piauí.
Pauliana, aliás, já poderia ter sido julgada, não fosse o fato de sua prima, Rejane Dias, ter foro privilegiado. A atual conselheira do TCE-PI também é ré, denunciada pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. E o processo que corria no Piauí terminou por ser ao Superior Tribunal de Justiça em novembro do ano passado.
Mas vamos torcer para que o julgamento aconteça antes dos crimes prescreverem.
Uma hora, a vaca volta a comer capim, por que tudo tem limite.
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