Às vésperas do 2º turno das eleições, Jair Bolsonaro (PL) finalmente terá estrutura de campanha no Piauí. Não é como se o resultado no Piauí fosse algo para mudar os rumos da campanha nacional. Este ano, os 2.044.386 de votos válidos para presidente no estado corresponderam a não mais do que 1,7% do total no país. E Bolsonaro foi eleito presidente em 2018 mesmo perdendo feio no Piauí.
Porém o resultado desse ano no Piauí merece uma avaliação.
Até aqui, a única figura de grade expressão que havia sustentado a campanha do presidente foi a presidente do PL no estado, Samantha Cavalca, que disputou uma vaga na Assembleia Legislativa. Então mesmo chegando tarde, o apoio vai render alguma melhora significativa no resultado das urnas?
Ainda não dá pra saber.
O “upgrade” na campanha de Bolsonaro do Piauí só acontece agora, faltando 16 dias para o 2º turno, depois dos candidatos majoritários do senador Ciro Nogueira (Progressistas) acenarem para Lula no 1º turno e serem derrotados exatamente pelos candidatos oficiais do petista, não antes de fazerem o candidato “oficial” de Bolsonaro desistir da campanha na reta final e anunciar apoio exatamente a quem passou pano para Lula.
A ajuda de Ciro à Bolsonaro no Piauí na primeira etapa da campanha ficou aquém da importância que o ministro-chefe da Casa Civil possui no governo do atual presidente. E os números provam isso.
Para ser bem sincero, Bolsonaro teve em 2022, com Ciro a seu favor, resultado praticamente igual ao que teve em 2018, quando Ciro trabalhou contra ele.
RESULTADO PÍFIO
No primeiro turno de 2018, sem estrutura, sem envergadura política e sem nenhum apoio significativo no Piauí, Bolsonaro alcançou 346.944 votos no estado. Três semanas depois, no segundo turno, subiu para 422.095 votos, chegando à marca de 22,95% dos votos válidos naquele ano.
Quatro ano depois, tendo liberado centenas de milhões de reais em obras e emendas, após inaugurar pontes, rodovias, tecnologia 5G e ter um piauiense como seu principal ministro, Bolsonaro despencou 3,6% daquele segundo turno de 2018 para este primeiro turno de 2022. Foram 15.198 votos a menos. E olha que o PT, apesar de ter vencido os candidatos de oposição, passou o recibo do desgaste. Welligton Dias (PT) foi eleito senador com apenas 70 mil votos de diferença para Joel Rodrigues (Progressistas). Eleito em primeiro turno, Rafael Fonteles (PT) deixou Sílvio Mendes (UB) para trás numa diferença de 303 mil votos.
Mas o curioso abismo que separou Lula de Bolsonaro no Piauí foi do tamanho de exatos 1.111.111 (um milhão, cento e onze mil cento e onze) votos. Parece até um recado para o próprio Ciro Nogueira, uma vez que o partido dele, o Progressistas, responde pelo número 11.
Se esse resultado não prova que Ciro Nogueira deixou o presidente de lado, o argumento se fortalece com outros números e comparações.
No estado de Arthur Lira, presidente da Câmara Federal e filiado ao mesmo Progressistas de Ciro Nogueira, Bolsonaro aumentou sua votação do 1º turno de 2018 para o 1º turno de 2022 em 17,63%, um resultado proporcional melhor que o entregue no Piauí.
Lira e Nogueira, nos bastidores, já disputam a liderança nacional do Progressistas e os resultados locais têm, sim, grande significância na situação.
NÚMEROS RUINS NA COMPARAÇÃO
Mas quem acha que Alagoas não serve de parâmetro, basta olhar, então, para os números dos estados vizinhos.
O Maranhão deu a Bolsonaro o segundo pior resultado do 2º turno das eleições de 2018. Naquele ano foram apenas 26,74% dos votos válidos. O Piauí foi o pior resultado de Bolsonaro no 2º turno no Brasil em 2018, apenas 22,95% dos votos.
Em 2022, os maranhenses já deram 20,35% a mais de votos a Bolsonaro do que ele teve no primeiro turno das últimas eleições e 10,97% a mais do que o candidato da direita teve no segundo turno daquelas eleições. Comparando os números destas eleições com o 1º turno de 2018, o Maranhão deu o 3º maior crescimento de Bolsonaro no Nordeste, enquanto o Piauí de Ciro Nogueira ficou em 6º lugar nesse ranking. Comparando com o segundo turno das eleições de 2018, o Maranhão liderou o crescimento do atual presidente na região, enquanto no Piauí Bolsonaro teve sua 3ª pior evolução, perdendo mais de 15 mil votos.
O Ceará deu a Bolsonaro o melhor resultado comparando as eleições de 2018 e 2022. A votação do atual presidente no primeiro turno destas eleições subiu 29,85% entre os eleitores cearenses em relação ao primeiro turno de 2018, enquanto no Piauí subiu apenas 17,28%.
SABOTAGEM: PASSAR PANO PARA LULA ATRAPALHOU
Nem a capital salvou. Pelo contrário. O candidato de Ciro Nogueira ao governo do Estado, Sílvio Mendes (UB), seria o melhor condutor de uma boa votação para Bolsonaro em Teresina, onde, em tese, a militância de direita é mais concentrada e onde ele, ex-prefeito, teria a melhor votação proporcional entre os municípios do Piauí.
Mas o resultado de Teresina é um atestado do distanciamento das campanhas de Ciro Nogueira e Jair Bolsonaro. Não seria atrevimento avaliar, diante dos números e da postura dos envolvidos, que a campanha de Bolsonaro foi sabotada por aqui.
A CALCULADORA DESMENTE AS FOTOS
A votação de Bolsonaro na capital do Piauí caiu nas comparações com o primeiro turno e segundo turno de 2018. Sílvio Mendes, que após a derrota para Rafael Fonteles (PT) anunciou seu apoio a Jair Bolsonaro, obteve 233.593 votos em Teresina, enquanto o presidente teve apenas 138.320 (59,21% da votação do candidato a governador de Ciro Nogueira), o que significa uma retração de 0,46% na comparação com o 1º turno de 2018.
Comparando este 1º turno de 2022 com o 2º turno de 2018, a queda de votação de Bolsonaro em Teresina foi de 14,96%.
Naquele ano, menos de 20% dos eleitores que votaram em outros candidatos a presidente no 1º turno escolheram Bolsonaro no 2º turno.
Seguindo essa projeção, seria algo normal Bolsonaro alcançar algo entre 430 mil e 460 mil votos desta vez.
Não dá pra se enganar com fotos e vídeos em postagens de políticos piauienses que abraçaram a campanha do presidente às vésperas da eleição.
Lá atrás, na pré-campanha e no caminho do primeiro turno, quando havia muito mais indecisos, levar esse eleitor a votar em Bolsonaro era uma tarefa mais fácil.
Aliás, pesquisas divulgadas pelo próprio Ciro Nogueira um mês antes do primeiro turno davam a Bolsonaro 25% das intenções de voto, foi o caso da pesquisa Credibilidade/TeresinaFM (nº PI-08389/2022), com margem de erro de 2,95%. Seriam, assim, entre 500 mil e 540 mil votos. Os indecisos e aquele que não votariam em nenhum, juntos, chegavam à casa dos 9%, o que representa quase 200 mil votos que estavam à espera do convencimento. Apenas 71 mil eleitores anularam seu voto ou votaram em branco. Ou seja, votos de Bolsonaro "escaparam" e Lula levou vantagem entre os indecisos também.
No segundo turno, mudar a opinião de quem já votou em Lula é coisa bem mais difícil.
Qualquer um com uma calculadora pode provar a Bolsonaro que esse pessoal todo -- que esteve hoje no palanque ao lado da primeira-dama Michele e que estará neste sábado ao seu lado -- passou a perna nele.
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