Responde pelo nome de Francisco Andrade Silva o criminoso que disseminou informações caluniosas contra o apresentador Ieldyson Vasconcelos, da TV Meio Norte. No último dia 15 de junho de 2022, redes sociais de todo o Piauí foram “abastecidas” com fake news sobre investigações de grilagem de terra no litoral do Piauí que teriam Ieldyson como alvo. O que se descobriu, por fim, é que o apresentador foi alvo de um esquema de assassinato de reputações.
O rastreio das mensagens mentirosas no Whatsapp levou a Polícia Civil até Andrade “Jacaré”, como é mais conhecido o dono da voz que deu vida à mentira de que a Polícia Federal estaria atrás do apresentador.
“Eu procurei a Justiça neste caso e qualquer pessoa que sofra esse tipo de calunia e difamação também tem que procurar a Justiça e a Polícia. A gente tem que acabar com essa história de que pessoas vão às redes sociais pra acabar a vida do outro e a gente fica calado”, comentou Ieldyson Vasconcelos ao Política Dinâmica.
CONTRADIÇÃO
Antes que a Polícia Civil o alcançasse, a defesa de Ieldyson chegou até Andrade Jacaré. Questionado pelo advogado Lúcio Tadeu, alegou que não tinha conhecimento de nenhuma informação ou fake News envolvendo Ieldyson. Em seguida, ao ser confrontado com o fato de que a voz que conta o boato criminoso é parecida com a dele, Jacaré diz que “inclusive tem até uma imagem, que tá sendo publicada aí nos grupos, dele, que ele tá sendo procurado”, confirmando já saber do que se tratava.
Ao advogado Lúcio Tadeu, Andrade Jacaré ainda pergunta se Ieldyson Vasconcelos será candidato a algum cargo eletivo nas eleições de 2022. “Geralmente atacam mais quando o cara é candidato”, diz Jacaré, dando a entender que existe prática comum, talvez até organizada, de assassinato de reputações por encomenda.
Após esse contato, Jacaré procura o repórter Kilson Diones, que trabalha com Ieldyson. Também por telefone, comenta o caso e, desta vez confessa. “O áudio, foi eu [quem fez]. Errei? Errei! Mas só que eu não citei o nome dele. Eu não citei em momento nenhum o nome dele, entendeu?”, diz, reconhecendo o crime, mas tentando minimizar sua participação nele.
DINHEIRO E POLÍTICA
A política faz parte da vida de Andrade Jacaré, que é comerciante. Aos 55 anos, nascido em Timon-MA, disputou o cargo de vereador de Teresina. Teve 147 votos pelo partido Avante em 2020 e apoiou a candidatura de Kleber Montezuma (à época, no PSDB, hoje no PP) a prefeito da capital no início da campanha.
Em suas redes sociais, no dia 12 de novembro de 2020, três dias antes das eleições, deixou de apoiar Kleber alegando que não chegou até ele o dinheiro que deveria ter sido entregue aos candidatos do partido. Sem o dinheiro, sem o apoio.
Intitulando-se “A voz das comunidades” em vídeos publicados em seu perfil no Facebook, Jacaré em um histórico de críticas desmedidas a políticos. Principalmente em anos de eleição.
MILÍCIAS DIGITAIS ORGANIZADAS
O esquema de assassinato de reputações em grupos de Whatsapp não parece ser coisa de amador. De acordo com a fala de Jacaré, em grande parte, as informações que atacam honra de pessoas são originalmente encaminhadas por números de chips telefônicos internacionais e a partir daí, são distribuídas em milhares de grupos de mensagem instantânea.
Neste caso em que Ieldyson foi vítima, Andrade fez um áudio, outra pessoa fez uma imagem e as duas mídias foram transmitidas e encaminhadas juntas por terceiros. O que pode indicar que a ação não é aleatória. Pelo contrário: parece ser bastante coordenada.
“Eu vou facilitar as coisas pra vocês, pra vocês chegarem a quem fez a imagem, tá bom? Eu vou falar com o Castro aqui, se eu posso falar o nome da pessoa, que o Castro sabe quem... de onde foi é que veio essa imagem do Ieldyson. Aí fica mais fácil pro advogado dele chegar à pessoa certa”. O “Castro” ao qual Andrade se refere na fala é Castro Alves, conhecido como “Comendador”, bolsonarista declarado e administrador de um grupo de Whatsapp chamado “Água Mineral em foco”.
No Instagram, com postagens iniciadas em 2020, Castro alega fazer “jornalismo comunitário”, e, tal qual Andrade Jacaré, publica vídeos com uma marca própria, no seu caso a TV Comendador. Nas últimas eleições municipais, fez campanha para o vereador Ítalo Barros (PSDB), que apoiava Kleber Montezuma. Os dois perderam aquelas eleições e, hoje, Castro tem no seu feed um alinhamento político diferente: muitas imagens demonstrando proximidade e intimidade com políticos ligados à atual gestão da Prefeitura de Teresina e grande consideração pelo prefeito Doutor Pessoa (Republicanos).
CRIME CONTINUADO E SEM MEDO
Para o advogado Lúcio Tadeu, não é mais uma questão de suspeitar de Andrade. “Hoje temos aqui u réu confesso. Não se discute mais a autoria dessa calúnia e difamação. Ele confessou à autoridade policial no inquérito”, aponta. Segundo Lúcio, agora é hora de dar prosseguimento às investigações sobre a organização criminosa que pode estar por trás dos ataques. “Essa calúnia e difamação já comprovada, que ele confessa, abre o leque pra se investigar como agem esses grupos de WhatsApp, uma forma de milícia quem têm um objetivo”, argumenta.
A própria Polícia Civil aponta, sem dúvidas, Andrade como praticante do crime de difamação e calúnia, não apenas por provas materiais, mas por confissão. Por isso, ao final do inquérito policial, Jacaré foi indiciado por estes crimes.
O que, causa estranheza é o fato de que Andrade não teve receio de criar e distribuir fake news envolvendo a Polícia Federal. E mesmo após o indiciamento por parte da Polícia Civil, continuou praticando o mesmo crime.
“Deixa eu te contar. O pessoal lá do grupo do Fábio Abreu, estava comentando aqui no meu privado que o Ieldyson é hoje esse cara que ataca o [ex-] secretário porque ele [Abreu] não deu o que [Ieldyson] queria. Além do que ele queria ganhar lá, ele ainda exigiu é que o mesmo [Fábio] fizesse uma dobradinha com ele, federal e estadual. Ele [Ieldyson], estadual, e o Fábio federal. É por isso que esse homem está aí atacando”, diz Jacaré em novo áudio, já após ter sido indiciado.
Andrade demonstra intimidade com pessoas ligadas ao deputado federal Fábio Abreu (PSD), mas não explica o que teria sido negado a Ieldyson pelo ex-secretário. E como se tivesse certeza da impunidade, faz mais alegações difamatórias sem provas. “Esses apresentadores vivem disso, de extorsão a político”, emenda o criminoso enquanto fazia críticas, também, aos policiais do 9º Batalhão, que anualmente promove um evento de certificação de cidadão tidos como amigos do batalhão.
Fábio Abreu participa do grupo de Whatsapp administrado por Castro Comendador, um dos quais as fake news de Andrade Jacaré contra Ieldyson Vasconcelos foram distribuídas.
Mas aquele não é o único grupo de conteúdo questionável e controverso do qual o deputado federal faz parte.
Procurado pelo Política Dinâmica, Fábio Abreu não retornou respostas sobre perguntas relacionadas ao caso.
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